20 de agosto de 2010

Como papai noel mudou minha vida

Não sei ao certo quando é que comecei a acreditar nesse negócio de deus, Jesus e bíblia.

Eu achava que o papai Noel era tipo um parente de Deus, e como acreditava cegamente em papai Noel – graças a rede de mentiras que minha família me envolveu por anos, tinha que acreditar no seu primo, o deus.
Essa ligação de parentesco era a comprovação para mim de que deus realmente existia.

Sair pelo mundo num trenó distribuindo presentes de graça para todas as crianças da terra é revolucionário.Altruísmo comove. Sempre preferi papai Noel.

Perto de papai Noel deus foi só o cara que criou o mundo em 7 dias. Papai Noel faria isso mais rápido.

Enfim, cresci e como uma punhalada de katana recebi a noticia: papai Noel não existe.

Meu mundo caiu. Porque ser boa? Porque comer legumes? No fim do ano isso não valia de nada...Ninguém me vigiava mais, eu era um carro desgovernado...Era questão de tempo até que eu virassa uma criança rebelde.

Se não tinha o que queria, chorava, berrava, caia no chão, esperneava.
Era cada um por si.
Se tinha a oportunidade de ganhar algo me agarrava as possibilidades. Literalmente.
Uma vez minha mãe saiu da loja e me deixou lá, agarrada a uma bicicleta. Só não morri de fome pela caridade dos passantes.

Naquele dia não ganhei a bicicleta. Não ganhei nada. Papai Noel foi se tornando uma lembrança cada vez mais presente em minha cabeça. E, novamente, era só uma questão de tempo para que aquele amor puro, juvenil e terno se transformasse em ódio e uma sede incontrolável de vingança.

Tinha que dar um jeito. Comecei então a preferir deus.
Em partes. Era tudo um teste.

Percebendo que a reza era nada menos do que uma forma carinhosa de pedir coisas ao papai do céu,resolvi arriscar.

Em todas as orações pedia a solene, a majestosa, a rainha das rainhas: A BONECA GLUB GLUB!

O nome dela era quase sagrado. GLUB GLUB era uma deusa para mim. Talvez a maior deusa que já me impôs algum respeito - Depois do canalha do papai Noel, claro.

Eu era volúvel, pedia a GLUB GLUB nas orações noturnas mas pedia também para minha mãe, para minhas tias, para os trevos de 4 folhas que achava na rua, nos pedidos das minhas fitinhas do bonfim... Enfim.

Se eu não ganhasse a Glub Glub seria um grande azar. Azar para o mundo é claro. De tanta decepção me transformaria, sei lá, num daqueles monstros gigantes dos Powers Ranges que saem por ai destruindo a cidade.

O futuro da humanidade estava salvo porque no natal de 95 eu ganhei a Glub Glub.
Começava então minha Era D.GG (depois da Glub Glub).

Não foi deus que me deu a Glub Glub, mas sei lá, ele podia ter ajudado de alguma forma. Resolvi levar isso em consideração e me tornei católica.

Ler só esse ultimo parágrafo isoladamente me torna uma pessoa totalmente fora dos padrões.Enfim, vale lembrar que minha mãe é espírita, mas não resolveu não impor nada para mim e meu irmão. Não fomos batizados quando nascemos e nem passamos por nenhum outro ritual religioso.
Tivemos a liberdade de escolher o que seriamos e em que acreditaríamos.

Minha família é em maioria católica, quando ‘resolvi’ ser católica minha tia me levou as pressas para batizar. Batizei com 13 anos. Eu e meu irmão.

Meu batizado é o tipo de experiência que queria deletar da minha mente. Ninguém batiza quando já sabe andar. Só bebes são batizados. Crianças não.


Fiz até a primeira comunhão. Pra falar a verdade o que mais me incentivava a seguir em frente com essa coisa toda de catolicismo era só uma coisa:

COMER UMA HOSTIA

Isso deve ser pecado, sei lá, quase tudo é pecado. Meu único propósito era comer uma hóstia, sempre quis saber o gosto daquilo.

Esse desejo me levava para frente, me fazia levantar todos os sábados de manha e ir para a igreja aprender sobre a bíblia.

HOSTIA, HOSTIA, HOSTIA

Repetia internamente como um mantra.

A primeira comunhão superou minhas expectativas. A hóstia veio embebida em vinho. Nunca tinha tomado vinho. Cara, que delicia a combinação.


Pronto. Já havia experimentado a hóstia e minha vida tinha perdido o sentido novamente. Precisava de algo novo...

Foi então que meu pai me levou a uma igreja evangélica. Ele não era evangélico nem ninguém que eu conhecia. Fui para conhecer. Não gostei. Pra falar a verdade nem me lembro como foi. Nada me marcou e por isso precisava encontrar um sentido para a minha vida em outro lugar.

E então fui a um centro espírita.
Gostei...Fui ficando...Ficando...Fiquei por uns 9 anos.Lia vários livros espíritas pelo prazer de ler, o que tinha neles era conseqüência.

Fiquei pela curiosidade. E até concordava com boa parte dos preceitos. Boa parte, não todos.

Agora não acredito em deus – nem em papai Noel. Acredito no bem. Fazer o bem é minha religião.

Mas todo esse post é só para perguntar: alguém sabe onde posso comprar hóstias?